
O chefe interino da missão diplomática norte-americana em Angola, James Story, considera o Corredor do Lobito como um “exemplo emblemático” daquilo que os Estados Unidos querem representar no continente africano: uma nova abordagem de cooperação multilateral, que combina investimento público, participação de empresas privadas de várias nacionalidades e apoio directo aos objectivos de desenvolvimento dos países parceiros.
Em entrevista à agência Lusa, às vésperas de deixar Luanda, Story sublinhou que o projecto ferroviário que liga o porto do Lobito ao Cinturão de Cobre na RDC é “uma mostra de como nós podemos, em parceria, trabalhar”, apontando o envolvimento de países europeus e asiáticos, empresas como a Mota-Engil, a Trafigura e a Vecturis, e ainda o impulso político do Presidente João Lourenço.
A importância estratégica do Corredor do Lobito vai muito além do transporte de cargas: representa uma tentativa clara de oferecer uma alternativa às rotas dominadas por interesses chineses e uma aposta em infraestruturas que sustentem a transição energética global, através da exportação de minerais críticos como o cobalto e o cobre. Mas os benefícios não são apenas macroeconómicos. Story destacou o impacto directo nas comunidades locais, com projectos como a instalação de silos para grãos pela norte-americana Amer-Con, a construção de pontes metálicas pela Acrow e o parque solar da Sun Africa, que está a ser implementado pela portuguesa MCA com tecnologia sul-coreana.
A visita recente ao traçado ferroviário por 17 diplomatas acreditados em Angola, incluindo da União Europeia, é vista como sinal do crescente interesse internacional. No entanto, a vertente financeira ainda enfrenta entraves: os prometidos 553 milhões de dólares da Corporação de Financiamento do Desenvolvimento dos EUA ainda não foram desembolsados, com o diplomata a garantir que novidades poderão surgir durante a cimeira EUA-África em Junho. Até ao momento, foram os parceiros privados que asseguraram 300 milhões de dólares em investimentos.
James Story destacou ainda que Angola “está a chamar muita atenção” e que há sinais de aprofundamento das relações económicas. Empresas como a Africell e a Boeing (que recentemente entregou quatro aviões à TAAG) são apenas a face mais visível do crescente envolvimento económico dos EUA. Voos directos entre Angola e os Estados Unidos estão em estudo, e novos sectores, além do petróleo e do gás, estão a ser explorados – apesar de persistirem desafios, como a titularidade da terra e a integração do sistema bancário nacional com a banca internacional.
Com uma abordagem diplomática que mistura visão estratégica, pragmatismo económico e sensibilidade social, os EUA querem, através do Corredor do Lobito, reafirmar-se como um parceiro credível e competitivo numa África cada vez mais disputada pelas grandes potências.