
Angola está a enfrentar um dos seus maiores desafios de saúde pública das últimas décadas. O país ocupa agora o terceiro lugar no ranking mundial das maiores taxas de mortalidade por cólera, um dado que acende o alerta e põe pressão sobre as autoridades.
A informação foi tornada pública esta terça-feira, 22, pela Directora Nacional de Saúde Pública, Helga Freitas, durante uma acção de formação voltada à classe empresarial sobre prevenção e combate à doença. Apesar dos esforços em curso, o quadro epidemiológico é considerado “preocupante” pelas autoridades sanitárias.
Mas a gravidade da situação não passou despercebida ao maior partido da oposição. A UNITA, através do seu “governo sombra”, reagiu com duras críticas. O seu Ministro da Saúde, Anastácio Rúben Sicato, afirmou que o país está a viver “uma epidemia de cólera em expansão nacional” e denunciou o que chamou de “falhanço do Governo” na resposta à crise sanitária.
Segundo Sicato, este é “o pior surto dos últimos 30 anos”, e a evolução da doença vai além de um surto localizado, apontando falhas estruturais como causas do agravamento. “O sistema de saúde é frágil, a assistência primária é limitada e o saneamento do meio é deficiente. A cólera encontrou terreno fértil”, afirmou.
Desde o início do ano, Angola já registou 14.374 casos de cólera, com 513 mortes confirmadas, segundo o boletim oficial divulgado pelo Ministério da Saúde. Dos 18 milhões de habitantes em áreas mais vulneráveis, uma boa parte continua sem acesso a água potável nem a condições básicas de higiene.
O surto começou no dia 2 de Janeiro de 2024, no bairro Paraíso, em Cacuaco (Luanda), e já se alastrou a 17 das 21 províncias do país — um sinal claro da sua dimensão nacional. As autoridades têm promovido acções de sensibilização e campanhas de vacinação, mas os números continuam a subir.
O Executivo ainda não respondeu publicamente às críticas da UNITA, mas fontes do Ministério da Saúde reforçam que o combate à cólera “continua a ser prioridade”, e apelam à colaboração de todos os sectores da sociedade para conter a propagação.
Enquanto isso, cresce a pressão para que sejam tomadas medidas mais rápidas, estruturadas e sustentáveis, num esforço conjunto que vá além da resposta emergencial — e que olhe também para a base: saneamento, saúde preventiva e acesso universal à água potável.