
A jovem deputada Irina dos Santos Diniz Ferreira assumiu recentemente as funções de secretária provincial adjunta da UNITA em Luanda, numa jogada que está a agitar os bastidores políticos da capital e a causar incómodo em várias alas internas do partido do Galo Negro.
Como seria de esperar, muitas vozes dentro da UNITA levantaram-se contra aquela que pode ser descrita como a mais ousada cartada de Adalberto Costa Júnior (ACJ) desde que assumiu a liderança da maior força da oposição.
Do ponto de vista da apreciação comum e até estatutária, Irina Diniz não preencheria os requisitos exigidos para tão importante função, sobretudo numa praça tão complexa como Luanda, onde a dinâmica política é marcada por tensões, exigências e simbolismo.
Arquitecta de formação, com passagem pelo sector empresarial e, sobretudo, pelo mundo da moda, Irina entrou para o Parlamento por via da lista da UNITA nas eleições de 2022, através da Frente Patriótica Unida – plataforma que congregou forças políticas e segmentos da sociedade civil. O resultado foi histórico: 90 deputados eleitos, o maior número da história da UNITA. Irina é uma dessas vozes.
É claro que a jovem, nascida em 1981, não possuía uma trajectória política tradicional. Nos bastidores, comenta-se que o seu nome na lista parlamentar terá sido influenciado por uma possível amizade entre o seu pai, Raul Diniz, e o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior.
Raul Diniz, empresário com histórico de ligações ao regime, fixou residência no exterior após alegadas divergências com as autoridades angolanas. Quando esta ruptura aconteceu, Irina era ainda adolescente, e por isso, livre de qualquer mancha ou associação direta às polémicas do passado.
Na verdade, Irina tem tudo para construir a sua própria história e reputação. Cresceu no bairro Alvalade, um dos mais prestigiados de Luanda até aos anos 1990, onde ainda reside parte considerável da elite política e económica do país.
A sua mãe, Maria Diniz, foi uma funcionária de destaque no Banco de Poupança e Crédito (BPC), tendo ocupado cargos de elevada responsabilidade. O seu irmão, Raul Diniz (júnior), mantém relações próximas com a família do ex-vice-presidente Bornito de Sousa, vizinho de longa data da família Diniz.
Portanto, Irina é, tecnicamente, filha do sistema. Nasceu e cresceu no seio do MPLA. Os seus amigos de infância e colegas são, na sua maioria, descendentes de altos dirigentes do partido no poder. Agora, esse mesmo meio assiste à sua ascensão dentro da oposição, como quadro destacado da UNITA.
Mas, ao contrário do que aconteceu com Chico Viana, Irina dá sinais de que realmente assumiu a causa da UNITA. Com uma abordagem política menos crispada e mais cosmopolita, pode representar um novo rosto para a oposição em Luanda – mais próxima dos jovens urbanos, dos intelectuais e da classe média emergente.
Se no início muitos criticaram a saída de Nelito Ekuikui da capital, hoje, com a nomeação de Irina Diniz, ACJ mostra firmeza na liderança e confiança na sua estratégia. A aposta pode parecer arriscada, mas revela ousadia e capacidade de renovação.
Luanda é um campo de minas, e nela, a batalha será tão política quanto simbólica. À jovem Diniz, os melhores votos. A cidade espera por novas vozes, novos rostos e, sobretudo, nova esperança