
A nova Estratégia Nacional de Inclusão Financeira (ENIF), que vai vigorar até 2027, tem como meta aumentar a taxa de bancarização dos angolanos de 32% para 37%. Mas o caminho é cheio de obstáculos: cerca de 75% da população continua com baixos níveis de literacia financeira, apenas 42% possui Bilhete de Identidade (BI), e a actividade económica ainda é fortemente marcada pela informalidade — que representa 80% da actividade e 40% do PIB.
O cenário traçado pela ENIF revela um país a duas velocidades. Enquanto Luanda concentra a maioria dos serviços financeiros, o restante do país enfrenta limitações estruturais como a falta de energia elétrica (52% da população), acesso limitado às telecomunicações (28% sem rede móvel) e graves défices na escolaridade. Estima-se que 13% dos adultos não tenham qualquer nível de ensino formal, e 21% tenham apenas o ensino primário — dos quais 57% são mulheres.
A ausência de documentação pessoal é um dos maiores entraves. Com apenas 42% da população a possuir BI, milhões de cidadãos ficam de fora de qualquer possibilidade de registo ou acesso formal a serviços financeiros. Isso afeta diretamente a taxa de bancarização, que hoje ronda os 32%, ou seja, apenas 11 milhões de angolanos têm conta bancária — número semelhante ao de pessoas que vivem na pobreza extrema, segundo o World Poverty Clock.
Além disso, o desconhecimento dos produtos e serviços financeiros disponíveis impede a população de tomar decisões conscientes sobre poupanças, crédito ou investimentos. Apenas 24,7% dos angolanos têm um nível aceitável de literacia financeira. A meta do Governo é aumentar esse número para 27,1% até 2027, o que representaria mais 2,7 milhões de pessoas informadas financeiramente — um progresso modesto, segundo especialistas.
Nelson Prata, presidente da ACONSBANC, considera que a meta proposta é insuficiente. Ele defende que o combate à exclusão financeira exige um esforço conjunto entre Governo, reguladores, supervisores do sistema financeiro e o sector da educação. Para ele, é fundamental garantir uma base sólida de literacia financeira para que os cidadãos possam poupar, planear o futuro e contribuir para a sustentabilidade do sistema financeiro nacional.