
As seguradoras e os fundos de pensões continuam com uma participação reduzida nas negociações da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), valendo apenas 1,7% do total das transacções em 2024 — o equivalente a cerca de 105,8 milhões de kwanzas. Os dados constam de um relatório recente da Comissão do Mercado de Capitais (CMC), que destaca o tímido envolvimento destes sectores no mercado de capitais, apesar de algum progresso em relação ao ano anterior.
As negociações das seguradoras cresceram 188,9%, passando de 14,8 milhões Kz em 2023 para 42,6 milhões Kz em 2024. Os fundos de pensões também registaram uma subida de 31,6%, saltando de 48 milhões Kz para 63,2 milhões Kz. Ainda assim, o peso conjunto das duas categorias permanece residual se comparado ao volume total de negócios da bolsa, que somou 6.061 milhões Kz — menos 21% face aos 7.653 milhões Kz negociados em 2023.
O sector bancário continua a liderar com folga, responsável por 4.717 milhões Kz das negociações na BODIVA, mostrando que o envolvimento institucional ainda se encontra muito concentrado.
Falta de produtos atrativos e pouca familiarização com o mercado
Especialistas apontam que a fraca participação do sector segurador se deve, em grande parte, à escassez de produtos adequados e à rigidez da legislação, que dificulta maior flexibilidade nos investimentos. Além disso, muitos gestores de seguradoras ainda não dominam o funcionamento do mercado de capitais, o que levanta um desafio de capacitação e construção de confiança no sistema.
Fundos de pensões com crescimento significativo
Em termos globais, os fundos de pensões apresentaram um crescimento de 28% em 2024, atingindo 1,1 biliões Kz. Em dólares, o aumento foi de 21%, cifrando-se nos 1.293,9 milhões USD. No entanto, Márcia Oliveira, especialista em seguros, alerta que os gestores devem diversificar os investimentos, pois a concentração em depósitos bancários — que ainda dominam a estrutura da carteira — não reflete boas práticas internacionais de gestão de risco.
Ela reforça que muitos destes investimentos nem sequer passam pela BODIVA, sendo direcionados para carteiras alternativas, o que oculta o verdadeiro potencial de investimento do sector. A especialista considera essencial que os gestores financeiros conheçam melhor o mercado e explorem outras opções além da dívida pública, como ações, obrigações privadas e unidades de participação.
Potencial do mercado ainda por explorar
Apesar dos desafios, a BODIVA já oferece uma variedade de títulos financeiros, como obrigações do tesouro, ações, obrigações privadas e unidades de participação. Contudo, o envolvimento do sector segurador e dos fundos de pensões permanece tímido, revelando que há um longo caminho a percorrer para integrar plenamente estes actores no desenvolvimento do mercado de capitais angolano.