
Nos últimos três anos letivos, o ensino privado em Angola tem se consolidado como a escolha predominante para os novos alunos. De acordo com dados do “Anuário Estatístico da Educação” publicado pelo Ministério da Educação e pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), dos 551.439 novos estudantes matriculados entre 2020 e 2023, 400.223 foram direcionados para instituições privadas.
O número total de alunos matriculados no ensino não superior aumentou de 8.248.698 no ano letivo de 2020-2021 para 8.800.047 em 2022-2023. Nesse período, a frequência em escolas privadas cresceu de 1.630.158 para 2.030.381 alunos. Essa tendência reflete uma percepção crescente de que as escolas privadas oferecem melhor qualidade e rigor em comparação às instituições públicas.
Além disso, a falta de acesso e a capacidade limitada dos serviços públicos em atender todas as regiões têm impulsionado o surgimento de “escolas comparticipadas”, muitas vezes associadas a entidades religiosas e organizações sociais.
Especialistas em educação, como Lando Pedro, presidente do Instituto Superior Universitário Nimi ya Lukeni, alertam que os dados quantitativos apresentados no anuário carecem de uma análise mais profunda. Segundo ele, o relatório foca no progresso numérico, mas ignora problemas persistentes, como desigualdades multiculturais e socioeconômicas. “A falta de contextualização pode mascarar disparidades estruturais e criar uma narrativa desconectada da realidade”, afirma Pedro.
Ele ressalta que a estatística, sem o devido contexto, pode levar a interpretações errôneas e perpetuar um discurso que não reflete os desafios reais enfrentados pelo sistema educacional. “Os números podem encobrir realidades e dar a ilusão de universalização do ensino”, conclui.
Para uma análise mais abrangente das tendências no setor educacional, é essencial que as autoridades considerem não apenas os dados quantitativos, mas também os fatores qualitativos que influenciam a educação em Angola.