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A recente decisão dos Estados Unidos de deixar a Organização Mundial de Saúde (OMS) levanta sérias preocupações sobre os riscos à saúde em Angola, especialmente em um momento em que o país já enfrenta desafios significativos no seu sistema de saúde. Especialistas alertam que a retirada do apoio americano pode comprometer a capacidade de Angola em detectar e responder a ameaças sanitárias, além de impactar negativamente a saúde pública e a situação social da população.
Um artigo publicado na revista científica *The Lancet* por pesquisadores de universidades angolanas e brasileiras enfatiza que Angola, assim como outros países em desenvolvimento, depende fortemente do suporte da OMS no combate a doenças transmissíveis, como malária e HIV/Sida, além de infecções emergentes como o coronavírus e o vírus da varíola. Os autores do estudo destacam que a saída dos EUA pode desestabilizar os canais de financiamento que são vitais para a imunização, vigilância epidemiológica e recursos essenciais para os serviços de saúde. “A interrupção nesses mecanismos pode resultar em atrasos na resposta a surtos, diminuição da cobertura vacinal e aumento das taxas de morbilidade e mortalidade”, alertam os especialistas.
Além dos riscos à saúde, as consequências sociais dessa retirada são profundas. O aumento da pressão sobre os sistemas de saúde pode acentuar a pobreza, já que as famílias enfrentam custos mais altos com cuidados médicos e perdas de produtividade devido a doenças que poderiam ser evitadas. O impacto sobre a educação, especialmente para as crianças, também é uma preocupação, já que os recursos familiares podem ser redirecionados para despesas médicas, prejudicando o acesso à educação. Os autores do estudo advertem que esses fatores podem aprofundar as desigualdades e ameaçar o progresso em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na região.
A decisão dos EUA pegou muitos de surpresa, pois o país é o maior financiador da OMS, que conta com 190 estados-membros sob a égide da ONU. O presidente Donald Trump também anunciou a suspensão de toda a ajuda internacional, exceto para programas humanitários e apoio militar a Israel e Egito. A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) é a maior doadora global, atuando em áreas que vão desde a saúde materno-infantil até o fornecimento de água potável e tratamento para HIV/Sida.
Em 2023, Angola foi o segundo país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa a receber apoio significativo da USAID, com um total de 71 milhões USD, embora esse valor seja consideravelmente inferior aos 664,1 milhões USD concedidos a Moçambique. Em um total de 72 bilhões USD disponibilizados pela USAID no ano passado, a maior parte foi destinada à Ucrânia.
Os recentes acordos entre os governos de Angola e EUA, que incluíam um investimento inicial de 12 milhões USD para o combate à malária e HIV/Sida, bem como programas de planejamento familiar e mulheres na agricultura, agora estão em questão. Este financiamento era parte de um total de 235 milhões USD previsto para o período de 2024 a 2027, mas a continuidade desse suporte é incerta diante da nova realidade.
Diante deste cenário, o futuro da saúde em Angola e de suas populações fica em um estado de incerteza, exigindo uma atenção especial da comunidade internacional para garantir que as conquistas em saúde pública não sejam revertidas e que as necessidades fundamentais da população angolana sejam atendidas.