Cidadãos e associações da sociedade civil na província angolana de Cabinda expressam sua indignação em relação ao aumento da imigração ilegal na região. Eles acusam autoridades públicas, sobas e líderes comunitários de estarem envolvidos na suposta emissão de documentos de identidade a cidadãos estrangeiros, especialmente da República Democrática do Congo (RDC), em troca de compensações financeiras.
Os imigrantes ilegais têm sido responsabilizados pelos altos índices de violência, criminalidade e pelo aumento do custo de vida em Cabinda. Denúncias indicam que as comunidades de imigrantes da RDC estão se tornando cada vez mais numerosas em diversos bairros e aldeias, muitos dos quais possuem laços familiares com cidadãos angolanos.
O ativista Alexandre Kuanga expressou sua preocupação, afirmando que “haverá um momento em que será difícil identificar quem é o verdadeiro Cabinda”. Ele acusa os imigrantes de estarem associados a uma onda de crimes violentos na região.
José Hilário Muanda Gimbi acredita que a imigração ilegal começou após o Memorando de Entendimento para a Paz em Cabinda, que, segundo ele, permitiu a incorporação nas Forças de Defesa e Segurança de muitos cidadãos que não eram angolanos. “Hoje, eles são comandantes e facilitam a entrada de seus parentes. Os verdadeiros combatentes estão aí e não foram integrados nas forças armadas”, afirmou Gimbi.
Por outro lado, Joaquim Missanda, ativista dos direitos humanos, ressalta que todos os cidadãos estrangeiros são bem-vindos em Cabinda, desde que entrem legalmente. “Não podemos cair na xenofobia, pois são nossos irmãos. O que queremos é que eles venham de forma legal. O nosso Estado deveria criar condições para organizá-los”, observa.
O subcomissário de Migração, Baltazar Diogo, negou qualquer envolvimento de seus efetivos na facilitação da entrada de expatriados, destacando que a atribuição legal de documentos a estrangeiros cabe às administrações municipais. Ele reconheceu a existência do fenômeno, atribuindo seu aumento à retirada dos postos de controle migratório ao longo das vias. “Quando existiam as contenções, as Forças de Defesa e Segurança controlavam melhor este fenômeno”, explicou Diogo.
Na mesma linha, o bispo de Cabinda, Dom Belmiro Chissengety, alertou as autoridades sobre a necessidade de um controle mais rigoroso dos estrangeiros que entram e saem do país. “Não sou xenófobo e nem sou contra nenhum cidadão congolês, mas os países têm suas regras, que devem ser respeitadas. É fundamental que os países protejam seus cidadãos”, concluiu Dom Chissenguety.