Foram a enterrar nesta quarta-feira, 13 de novembro, no Cemitério do Benfica, em Luanda, Angola, dois dos três jovens encontrados mortos no sábado, 9 de novembro, nas proximidades do bairro Vila Kiaxi. Estes assassinatos levantam novas questões sobre a onda de mortes violentas que tem assolado a capital angolana.
O porta-voz do Serviço de Investigação Criminal (SIC) não comentou os casos recentes, limitando-se a afirmar que a corporação está a investigar. O aumento de homicídios em Luanda tem alarmado os moradores, que especulam sobre a possível atuação de “esquadrões da morte” ou a adesão de jovens ao mundo do crime. Observadores admitem o envolvimento do crime organizado, disputas por controlo de territórios e ajustes de contas entre grupos.
Nelson Francisco, presidente da Associação de Jovens Resilientes, acredita firmemente que as mortes têm uma ligação clara com o crime organizado, decorrente dos vários problemas sociais no país. “A polícia, por si só, não será capaz de pôr cobro a esta situação”, afirma Francisco, destacando a necessidade de uma mobilização conjunta da sociedade para enfrentar os problemas sociais que contribuem para a violência.
Ele ressalta que devido “à precariedade social que hoje se vive, os jovens, maioritariamente, encontram-se envolvidos em determinados negócios que, por sua natureza, são de contornos difíceis e lamentáveis e, na maior parte das vezes, com um fim trágico”. Francisco apela à sociedade para que se una em torno dos problemas sociais, a fim de encontrar soluções que minimizem o crescimento da violência.
Evandra Furtunato, outra ativista social, defende que apenas investigações profundas podem esclarecer as razões por trás dos assassinatos, mas alerta para a preocupante impunidade que persiste. “Nós, enquanto cidadãos, preocupamo-nos com a questão da impunidade”, afirma Fortunato, esperando que “a polícia possa fazer uma maior investigação e prestar melhores esclarecimentos” sobre esses casos.
Contactado pela Voz da América, o porta-voz do SIC recusou-se a comentar as causas das mortes recentes, mas afirmou que o caso está sob investigação. O Superintendente de Investigação Criminal Manuel Halaiwa explicou que “sempre que ocorrem fatos criminais, sobretudo homicídios, o que nós fazemos é abrir o competente procedimento criminal”. Halaiwa detalhou que os cadáveres são removidos para a perícia médico-legal, e, determinadas as circunstâncias da morte, a investigação prossegue para identificar os autores dos crimes.
Em julho deste ano, foram encontrados corpos em várias localidades de Luanda, incluindo Zango, Viana, Cacuaco, Cazenga e Icolo e Bengo. Há alguns anos, o investigador Rafael Marques denunciou a existência de execuções sumárias em Luanda no relatório “O Campo da Morte”, que apontava para a atuação de esquadrões da morte na capital.
A onda de homicídios em Luanda continua a gerar medo e incerteza entre os moradores, que clamam por respostas e ações efetivas das autoridades para garantir a segurança e justiça na cidade.