Angola tem demonstrado um compromisso significativo no pagamento da sua dívida externa, tendo reduzido o seu stock em cerca de 3.222 milhões de dólares desde 2021. Porém, enquanto mantém um rigoroso cumprimento de suas obrigações financeiras internacionais, o país enfrenta grandes desafios para cobrar a dívida de vários países a quem concedeu empréstimos ao longo das últimas décadas. A situação cria um contraste evidente entre a postura de Angola como devedora responsável e como credora leniente.
Desde o final da pandemia, Angola tem priorizado a regularização das suas dívidas, mesmo diante de pressões financeiras que levaram a cortes e atrasos em setores como a folha de pagamento da função pública. Neste período, apenas à China foram pagos 5.912 milhões de dólares, principalmente para reduzir as dívidas com garantias de petróleo, uma das principais preocupações do Governo angolano em termos de sustentabilidade financeira.
Em contrapartida, países como República Democrática do Congo, Guiné-Bissau, Madagáscar, Moçambique e República Centro-Africana, que têm empréstimos pendentes desde 1979, não têm honrado suas dívidas com Angola, gerando um impasse para o Ministério das Finanças. Muitos desses países são classificados como “pobres altamente endividados” e enfrentam dificuldades para cumprir com suas obrigações, agravadas por crises globais como a Covid-19 e instabilidades regionais.
O Ministério das Finanças informou que tem adotado várias estratégias para tentar reaver os valores emprestados, incluindo negociações bilaterais, interação com missões diplomáticas e a promoção de parcerias estratégicas que possam resultar na reestruturação das dívidas ou em alternativas de pagamento. No entanto, muitos desses débitos se tornaram dívidas históricas, com juros acumulados que já superam os valores originais dos empréstimos, criando uma situação complexa para o Governo angolano.
O caso coloca Angola numa posição delicada: enquanto busca reduzir seu endividamento externo e consolidar sua estabilidade fiscal, vê-se também com limitações para recuperar os créditos concedidos a países parceiros, o que representa um desafio adicional na gestão das suas finanças públicas.